“Por fim, o que é rock’n’roll? Seriam os óculos de John ou o olhar de Paul?”, indagavam os Engenheiros do Hawaii na canção “O papa é pop” (1990). Essa questão admite múltiplas interpretações, conforme demonstraram os milhares de entusiastas que lotaram o Parque Olímpico no último final de semana, dedicado ao gênero que dá nome ao Rock in Rio. A primeira parte do evento foi concluída no domingo (15), com o retorno marcado para a quinta-feira (19).
O primeiro dia do festival foi marcado pelo protagonismo do trap, enquanto o segundo se destacou pelo pop-rock. No terceiro, as diversas vertentes do rock tomaram conta do palco, com artistas renomados, como os veteranos Barão Vermelho e Paralamas, representando o Brasil, ao lado de nomes internacionais como Journey, Incubus, Evanescence e Avenged Sevenfold, atração principal de domingo.
A renovação estrutural da Cidade do Rock
Nesta edição de 2024, uma inovação notável foi a nova configuração da Cidade do Rock, que aprimorou o fluxo de pessoas no incessante vaivém entre os palcos Mundo e Sunset. Este último, pela primeira vez, compartilhou o mesmo espaço físico do primeiro, proporcionando uma experiência mais fluida ao público. Além disso, novos espaços, como a Babilônia Feira Hype e o Global Village, ampliaram as opções de entretenimento e cultura dentro do festival. Apesar de pequenos percalços, como falhas nos telões e no som de algumas apresentações, a estrutura global mostrou-se eficiente.
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O retorno do pop e o Dia Delas
Na quinta-feira (19), o Rock in Rio retornará com destaque para o pop, recebendo nomes como Ed Sheeran e Gloria Groove, além da participação especial de Will Smith no palco Sunset. Na sexta-feira (20), o Dia Delas tomará conta do festival, com Katy Perry como atração principal e Iza entre as atrações principais. O sábado (21) será dedicado ao Dia Brasil, trazendo apresentações coletivas de diferentes gêneros musicais, incluindo, pela primeira vez, o sertanejo. Já o encerramento, no domingo (22), contará com Shawn Mendes e a icônica Mariah Carey.
O legado roqueiro e a diversidade de gerações
Com um clima nublado no domingo (15), os espectadores, predominantemente vestidos de preto, desfrutaram de uma temperatura mais amena em comparação aos dois primeiros dias de festival.
Entre os presentes, Ednei Gomes, de 45 anos, participou pela primeira vez, declarando que estava ali para aproveitar a trilha sonora de toda a sua vida. “O rock’n’roll é liberdade, expressão, coragem e a agressividade necessária para viver. Em tudo que fiz até hoje, busquei inspiração nos artistas de que sou fã. Eu sou o rock’n’roll”, afirmou o servidor público.
Para Beatriz Rangel, de 26 anos, o rock representa uma conexão profunda com seu pai, que é deficiente visual. “O rock é a forma como consigo enxergar junto com o meu pai. Ele é cego, e essa sempre foi nossa maior ligação. Ele me transmitiu todas as referências musicais que tenho”, revelou a turismóloga, que participa do Rock in Rio pela terceira vez.
Alberto Braga, um professor aposentado de 78 anos, usava uma camiseta do Avenged Sevenfold, comprada por sua esposa no Centro da cidade por R$ 80. Ele aprendeu a gostar da banda graças ao filho, Kenny, batizado em homenagem ao astro da música country, Kenny Rogers. “Ensinei meu filho a gostar de rock, e ele me apresentou bandas atuais, como Avenged e Muse”, relatou Alberto, um veterano do festival, presente até na edição de 1985.
Alessandro Serpa, de 49 anos, professor da rede estadual do Rio de Janeiro, também compartilha esse legado roqueiro. Estreou no Rock in Rio em 1991, no auge da MTV e das rádios de rock, que ele considera fundamentais na sua formação musical. “Hoje, os adolescentes têm como referência o trap, e não o rock. Esse é o mundo deles”, observou. “Mas sempre vou com a minha camiseta de rock para a sala de aula.”
Por fim, Mickael Matos, de 16 anos, se define como um nostálgico. O adolescente, que usa uma camiseta do Iron Maiden, admite ter sido influenciado pelo jogo digital Guitar Hero. “Eu queria ter vivido a época de ouro do rock. Gosto de todos os gêneros, mas o rock é meu favorito, sem dúvida”, declarou o jovem, que já percorreu 20 quilômetros a pé para assistir a uma apresentação de interpretação do Slipknot.
Assim, o Rock in Rio 2024 mostra-se um evento que, mais do que celebrar um único estilo, reforça o ecletismo musical e a conexão entre gerações, desde os admiradores veteranos até os novos adeptos da cultura roqueira.