Belo e a transformação da história contemporânea do Rock in Rio

Ex-Soweto realizou apresentação marcante no Palco Favela no domingo (22)
Belo e a transformação da história contemporânea do Rock in Rio
Belo e a transformação da história contemporânea do Rock in Rio. Reprodução/Pinterest/@alessandraerik2

Já teve a honra de assistir a apresentações de ícones do soul, samba rock e da rica música preta popular brasileira? Jorge Ben? Cassiano? Tim Maia? A maioria de nós, infelizmente, não teve essa oportunidade. Aqueles que o fizeram compõem uma minoria privilegiada da população brasileira. No entanto, neste simbólico e decisivo último dia de Rock in Rio, Belo, além de prestar tributo a esses mestres, realizou um dos espetáculos mais notáveis do cenário nacional. Não foi a apresentação mais técnica, nem a mais espetacular, mas certamente uma das maiores, considerando tanto o contexto quanto a riqueza musical que trouxe à tona.

Belo: o cantor do amor e a fusão de gêneros musicais

Autointitulado “Cantor do Amor” — e com total merecimento —, Belo promoveu uma verdadeira celebração com o seu público. A energia fluía com naturalidade, enquanto homens e mulheres, independentemente de suas orientações, entrelaçavam-se em dança e afetos. Em meio a esse cenário, o artista, apadrinhado e orquestrado com maestria por Wilson Prateado, mostrou-se como um legítimo herdeiro das melhores produções musicais brasileiras dos anos 1960, 1970 e 1980.

Em sua estreia no maior festival de música e entretenimento do planeta, Belo brindou os presentes com referências a ícones como Originais do Samba, Djavan, Banda Black Rio e Sandra de Sá. Contudo, foi seu repertório próprio que realmente fez o público vibrar, enquanto momentos mais mornos ocorreram nas breves interrupções em que ele se distanciou da vibração do pagode, do samba rock e do soul, ao interpretar um clássico da bossa nova e uma versão um tanto desinteressante de “Mas Que Nada“, de Jorge Ben.

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Um espetáculo que escreveu história

Entretanto, os momentos menos inspirados foram exceções em uma apresentação que, em sua maioria, transbordou história e tradição. A apresentação reverberou como uma celebração da melhor música de baile, com interpretações de samba, samba rock e clássicos de Hyldon, Fábio, Leci Brandão e Luiz Melodia. Infelizmente, nenhum desses grandes nomes foi citado de forma mais enfática durante a apresentação, o que poderia ter elevado ainda mais a experiência. A citação a Jorge Ben, por exemplo, soou deslocada, desapontando aqueles que esperavam ver Belo mais próximo das raízes do soul e do R&B, ao invés de versões desprovidas de inovação.

Felizmente, canções como “Eternamente“, Pura Adrenalina, Desse “Jeito É Ruim Para Mim“, “Reinventar” e “Intriga da Oposição” restabeleceram a atmosfera festiva, fazendo com que o pagode e o charme brilhassem com força total, transformando o espetáculo em um verdadeiro baile.

Belo: um artista multifacetado

Belo entrega-se inteiramente ao que faz. Sob a direção segura de sua metodologia, exibe o auge da música popular brasileira contemporânea. Sua obra, repleta de sucessos, raramente deixa espaço para o tédio: ou a canção é um sucesso reconhecido ou, no caso raro de não ser, logo se torna um clássico entre seus admiradores. É inegável que Marcelo Pires Vieira, nome por trás de Belo, se inscreve no panteão dos grandes artistas populares brasileiros, com comparações a Elymar Santos e, para muitos, até a Roberto Carlos.

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Todos esses artistas são extraordinários em suas respectivas esferas e, para quem teve o privilégio de vê-los, o momento foi único. E para aqueles que ainda não o fizeram, há inúmeras oportunidades, uma vez que a apresentação regular de Belo consegue, surpreendentemente, ser ainda melhor do que a apresentação visto no Palco Favela. Este palco, uma curiosa forma de o mercado musical brasileiro lidar com artistas que deveriam ocupar posições de destaque, não fossem as biografias muitas vezes marcadas pela “periferia”.

O futuro da música popular brasileira no Rock in Rio

Tati Quebra Barraco, Cidinho e Doca, Fundo de Quintal, Borges, Kevin O Cris, Xande de Pilares, Buchecha, Hariel, entre outros, ajudaram a criar uma nova energia dentro de um festival que, por vezes, parecia reticente em reconhecer a verdadeira música popular brasileira. No entanto, com apresentações marcantes e irreverentes, esses artistas demonstraram que, finalmente, a música popular brasileira encontrou o seu merecido espaço no maior palco de todos. Que este seja apenas o começo de uma nova era, em que a cultura da periferia se erga, e os bailes de todas as comunidades brasileiras encontrem seu lugar ao sol.

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