O crocodilo da Lacoste trocou as quadras pela areia na coleção Verão 2025, apresentada durante a Semana de Moda de Paris nesta terça-feira (1). Sob a direção criativa de Pelagia Kolotouros, a marca trouxe o esporte (mais uma vez) à tona, mas com uma pegada diferente: dessa vez, o tênis é de praia.
A coleção brinca com elementos do universo esportivo, trazendo vestidos que remetem às quadras, coletes inspirados em raquetes e colares que lembram apitos. Além disso, o estilo praiano ganha força com biquínis de cintura alta, regatas cavadas e vestidos minis, presentes tanto em visuais masculinos quanto femininos.
E quanto à tradicional camisa polo, um ícone da Lacoste? Ela também foi repaginada. Em diferentes versões, aparece justa ao corpo, quase como um maiô, ou transformada em vestido, e até em um inovador tricô marrom longo, que vai até os pés.
Lacoste e Brasil
A marca tem um grande impacto no Brasil, especialmente nas periferias. O sucesso do rapper Kyan com a música “Tropa da Lacoste” é um exemplo claro de como a grife se tornou símbolo entre os jovens das favelas. Mas essa relação não é recente. Desde os anos 2000, marcas como Lacoste e Nike fazem parte do visual popular, com peças que marcaram época, como o famoso Nike Shox.
Embora presente no cotidiano dos jovens brasileiros, a Lacoste demorou a reconhecer esse público de forma adequada. Um exemplo disso ocorreu em 2021, quando a marca lançou uma campanha com figuras brasileiras, como ator João Guilherme, mas sem qualquer representante da periferia, gerando repercussão negativa. A marca, então, voltou atrás e incluiu uma das principais funkeiras da cena, MC Dricka no time de embaixadores, após as críticas.
Preconceito na moda
Esse afastamento de grandes marcas em relação às periferias levanta questões sobre preconceito. Há um receio entre marcas de luxo em se associarem a figuras vistas como “marginalizadas”, por medo de perder seu status de exclusividade e luxo.
No entanto, essa realidade não é apenas brasileira – globalmente, artistas que surgem de contextos periféricos também enfrentam resistência da indústria. O rapper Jay-Z, por exemplo, só estrelou uma campanha para a marca de joias Tiffany em 2023, apesar de seu sucesso de longa data.
Moda e favela
Hoje, nomes como as irmãs Tasha e Tracie representam bem o estilo que emerge das favelas brasileiras. Com 27 anos, as gêmeas começaram a se envolver com moda na adolescência e são referência no cenário atual. “Essas são as meninas que os meninos gostam”, verso da funkeira paulistana MC Mernorzinha, que exemplifica exatamente o que as gêmeas representam.
Em entrevista à Marie Claire, Tracie explicou como o interesse pelo tema cresceu ao consumir conteúdos de moda e criar um blogue na época. “A identidade visual dos conteúdos que a gente consumia fez com que nosso interesse por moda fosse crescendo. Aí foi natural querer trabalhar com isso no blogue”, disse Tracie à revista.
Com o estilo das periferias em alta, marcas como a Lacoste estão de olho nesse público. A nova coleção, com forte inspiração no universo praiano e no esporte, reflete uma tentativa de diálogo com essa estética, que vem ganhando força, especialmente com o interesse triplicado pelo tênis no Brasil desde 2021, conforme apontado pela Confederação Brasileira de Tênis.