“Podem me chamar de Rosie,” diz Rosé, enquanto participa de uma chamada de vídeo diretamente de Nova Iorque, onde está para a gravação de um projeto confidencial. Com cabelos tingidos de loiro morango e um visual despretensioso, ela veste uma camiseta cinza lisa adornada por colares sobrepostos. As pesadas cortinas vermelhas do quarto de hotel estão fechadas atrás dela. “Desculpem, estou doente hoje,” comenta enquanto, fora da tela, pede um chá, alternando habilmente entre o inglês suave, com sotaque neozelandês, e o coreano ágil. Apesar de não estar no auge de sua saúde, seus olhos estão radiantes e o sorriso, contagiante. “Tenho viajado,” ela conta ao PAPER, “mas estou melhor do que nunca.”
São tempos de grandes realizações para Rosé. Cinco dias após o lançamento de “APT,” sua aguardada canção solo com participação de Bruno Mars, ela ainda desfruta da euforia inicial. Apesar do nervosismo sobre a recepção do público, o retorno imediato nas redes sociais, especialmente no TikTok, trouxe-lhe tranquilidade. “Agora que recebo feedback ao vivo dos admiradores, começo a realmente curtir tudo,” comenta, corrigindo-se rapidamente: “Na verdade, estou definitivamente curtindo.” Sua única hesitação parece ser com o aspecto promocional da carreira: “Agora preciso ser eu mesma, a personalidade que as pessoas querem ver,” reflete. “É um começo um pouco tumultuado, mentalmente.”
Um ícone global em transformação
Para quem acompanha a indústria musical, Rosé — nome real Roseanne Park — é um nome amplamente conhecido. Há oito anos, ela é uma das integrantes do icônico grupo BLACKPINK, o fenômeno do K-pop que se consolidou como o grupo feminino mais falado globalmente desde as Spice Girls. Ao lado de Jennie, Lisa e Jisoo, Rosé ajudou a quebrar os melhores indicadores e a lotar estádios, levando o K-pop a públicos nunca antes alcançados.
Contudo, as coisas mudaram significativamente desde então. Em 23 de dezembro de 2023, a gravadora YG Entertainment anunciou que Rosé e suas colegas de grupo decidiram não renovar seus contratos solo, optando por caminhos independentes. Essa decisão marca uma nova era para Rosé, que se prepara para lançar seu primeiro álbum solo, rosie, no dia 6 de dezembro. “Era um grande sonho,” confidencia ela sobre o projeto. “Não queria comentar sobre isso antes, temendo não conseguir entregar um álbum do qual me orgulhasse.” Agora, contudo, ela está ansiosa para compartilhar esse trabalho com o mundo.
Para milhões de admiradores — conhecidos como BLINKs — ao redor do globo, a última apresentação do Born Pink em Seul, em 17 de setembro de 2023, simbolizou o encerramento de uma era. Rosé descreve a atmosfera nos bastidores como uma grande celebração, mas admite que os sentimentos eram complexos. “Quase chorei durante a primeira música,” recorda, “mas precisei me segurar para conseguir cantar.” Apesar de tudo, a satisfação de estar de volta ao lar era imensa.
Os primeiros passos da carreira solo
Após o anúncio da separação, cada integrante do BLACKPINK revelou seus planos solo: Jennie foi a primeira, anunciando sua agência Odd Atelier; em seguida, Lisa com a Lloud e Jisoo com a Blissoo. Em 18 de junho, Rosé comunicou sua parceria com a The Black Label, da YG Entertainment, para gestão de sua carreira musical. “Eu não tinha um plano concreto inicialmente,” admite Rosé, que preferiu dar pequenos passos, agendando sessões de composição em Los Angeles após a turnê. Embora relutante quanto ao seu potencial como compositora, foi encorajada ao compartilhar suas primeiras criações com amigos. “Eles disseram, ‘Rosie, você realmente deveria seguir com isso,'” lembra.
Essa confiança renovada levou Rosé a prolongar sua estadia nos Estados Unidos, imergindo profundamente no processo criativo. Em 16 de setembro, assinou um contrato global com a Atlantic Records para o lançamento de rosie. A escolha da gravadora, segundo ela, foi motivada pela empatia e compreensão mútua que sentiu ao conhecer a equipe. “Precisava concluir esse álbum com pessoas que realmente me apoiassem,” explica.
Explorando a autenticidade em meio aos desafios
Durante a gravação de rosie, Rosé trabalhou com um conjunto diversificado de produtores e compositores, incluindo Amy Allen e Michael Pollack, os quais ela descreve carinhosamente como “minha mãe e meu pai” no processo. O álbum, apesar de seus ritmos cativantes, traz letras que exploram as complexidades emocionais das relações amorosas e os desafios da juventude. “Estou abordando temas difíceis,” revela. “Quero que as pessoas compreendam que sou tão comum quanto qualquer garota de 20 e poucos anos, lidando com situações complexas.”
Para Rosé, a vulnerabilidade presente em suas composições é um reflexo da fase instável e intensa que atravessa. “Seus 20 anos não são fáceis,” afirma. “É quando você está vulnerável, confuso e, ao mesmo tempo, animado e revoltado com a vida. Isso é o que eu queria cantar.” Contudo, a profundidade emocional do álbum não se limita a experiências amorosas; ela aborda também o impacto das redes sociais sobre a autoimagem, uma questão que considera desafiadora. “Às vezes, fico horas lendo comentários negativos,” confessa. “Percebi o quanto sou vulnerável a esse mundo [digital].”
Um novo capítulo: vulnerabilidade como força
Para muitos, Rosé é a “voz dourada” que encanta e inspira. No entanto, em rosie, ela explora sua própria humanidade e as inseguranças que a tornam mais próxima de seus admiradores. Ao se deparar com questões existenciais, Rosé optou por transformar suas emoções em músicas, criando uma narrativa que conecta sua identidade artística à sua essência pessoal.
Ao longo do último ano, sua rotina foi intensa, dividida entre estúdios e viagens. “Foi um ciclo de trabalho tóxico,” admite, mas confessa que encontrou prazer na simplicidade dessa rotina. Aprendeu a dirigir, retirou-se de eventos públicos e investiu em si mesma, buscando um equilíbrio entre sua imagem pública e a “Rosie interna”.
A poucos dias do lançamento de seu álbum, Rosé acredita estar pronta para revelar ao mundo um lado mais autêntico e vulnerável. “Quero que as pessoas parem de me interpretar mal e me vejam como realmente sou,” declara. Para ela, rosie representa uma oportunidade de redefinir sua identidade e construir uma conexão mais profunda com seu público, mostrando que, por trás do luxo e dos holofotes, existe alguém com sentimentos e anseios semelhantes aos de qualquer outra pessoa.