A complexidade da solidão: entre a multidão e o isolamento

A solidão é um sentimento subjetivo de desconexão emocional, podendo ocorrer tanto em isolamento quanto em meio à multidão ou relacionamentos
A complexidade da solidão: entre a multidão e o isolamento
A complexidade da solidão: entre a multidão e o isolamento. Reprodução/Pinterest/freepik

A solidão é um fenômeno complexo e multifacetado, experimentado de maneiras distintas por cada pessoa. Em meio ao movimento frenético das cidades, cercado por multidões e ruídos, é possível sentir-se desconectado. Ao mesmo tempo, um relacionamento desgastado pode gerar uma sensação profunda de invisibilidade, em que a presença física não implica necessariamente conexão emocional.

A solidão na literatura e na ciência

A literatura reflete essa realidade. No clássico Frankenstein, de Mary Shelley, Robert Walton, apesar de rodeado por companheiros, sente a falta de um amigo verdadeiro, evidenciando que ela não é apenas a ausência de pessoas, mas também a falta de conexão significativa.

Estudos confirmam essa perspectiva. Uma pesquisa de 2021, que analisou registros de 756 pessoas ao longo de dois anos, revelou que ambientes urbanos superlotados podem intensificar a sensação de solidão. Essa constatação levanta questões sobre o impacto da urbanização e da tecnologia na qualidade das relações humanas.

A contradição da era digital

A chamada “epidemia da solidão” se manifesta em diversos contextos. Em 2018, um estudo da BBC intitulado Loneliness Experiment apontou que 40% dos jovens entre 16 e 24 anos relataram sentir solidão com frequência. Outra pesquisa indicou que cerca de 10% dos adultos ao redor do mundo experimentam esse sentimento de formas variadas.

Curiosamente, isso ocorre em um período de conectividade sem precedentes. As redes sociais permitem interações instantâneas, mas muitas vezes sem profundidade emocional. Ao mesmo tempo, a população urbana cresce rapidamente e, até meados do século, espera-se que 68% da humanidade viva em cidades. Esse paradoxo levanta uma pergunta: por que ainda nos sentimos solitários?

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O conceito de solidão através da história

A história revela que a noção de solidão evoluiu ao longo dos séculos. A historiadora Fay Bound Alberti, do King’s College de Londres, explica que o termo adquiriu seu significado atual apenas no século XIX. Antes disso, estar só era visto como uma forma de conexão com a natureza ou o divino, e não necessáriamente como um estado negativo.

O psicólogo Sam Carr, da Universidade de Bath, enfatiza que a solução para a solidão não é, necessariamente, a presença de outras pessoas. Muitas vezes, interações superficiais ou disfuncionais podem intensificar esse sentimento. Relacionamentos onde uma pessoa se sente invisível podem resultar em uma solidão mais profunda do que a experiência de estar fisicamente só.

A complexidade da solidão: entre a multidão e o isolamento
A chamada “epidemia da solidão” se manifesta em diversos contextos. (Foto: reprodução/Pinterest/memory2396)

Superando a solidão

Estudos indicam que o toque físico e a interação com a natureza podem amenizar a sensação de isolamento. Um experimento realizado em 2020 revelou que até mesmo um toque rápido no ombro pode aumentar a percepção de conexão social. Além disso, pessoas que passam tempo ao ar livre apresentam 28% menos probabilidade de se sentirem solitárias.

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A solidão também pode estar presente em relacionamentos amorosos. Um relato enviado ao pesquisador Sam Carr ilustra essa questão: uma mulher casada há 50 anos revelou que a fonte de sua solidão sempre foi seu próprio marido. Ela acreditava que o matrimônio a preencheria emocionalmente, mas descobriu que ele se tornou a causa do seu isolamento.

Já a psicóloga Olivia Remes, da Universidade de Cambridge, sugere que é essencial distinguir entre solidão passageira e crônica. Ela destaca que, ao refletir sobre esse sentimento, é importante focar no que está ao nosso alcance. Se a resposta à solidão for buscar conexões mais significativas, em vez de se sentir impotente diante da situação, o cenário pode mudar.

Dessa forma, a busca por sentido na solidão pode ser transformadora. O voluntariado, por exemplo, é apontado como uma forma eficaz de fortalecer laços sociais. Ao ajudar os outros, o indivíduo desvia o foco de sua própria situação, fortalecendo sua sensação de pertencimento.

A solidão faz parte da experiência humana. O desafio está em encontrar formas saudáveis de lidar com ela, transformando-a, sempre que possível, em um momento de reflexão e crescimento pessoal.

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