Desde que os celulares começaram a fazer parte do cotidiano escolar, o debate sobre seu impacto na educação se intensificou. A recente sanção da lei que proíbe o uso de celulares nas escolas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva reacendeu a discussão. A educadora Débora Garofalo, conhecida por seu trabalho inovador com robótica e tecnologia, conversou com a BBC News Brasil e destacou que a medida é um passo inicial, mas não pode ser a única solução para os desafios do ensino.
Tecnologia como ferramenta pedagógica
Débora Garofalo ganhou reconhecimento ao utilizar celulares para desenvolver atividades de programação com seus alunos do ensino fundamental em uma escola municipal de São Paulo. Seu projeto de robótica com sucata a levou ao top 10 do Global Teacher Prize, considerado o “Nobel da educação“. Para ela, os celulares não são inimigos da aprendizagem, mas precisam ser usados com intencionalidade pedagógica.
“A proibição é uma medida inicial para recuperar o controle da sala de aula, mas não pode ser o fim do processo”, argumenta Garofalo. Segundo a educadora, é fundamental ensinar o uso consciente da tecnologia em vez de simplesmente bani-la.
A justificativa para a proibição
A lei sancionada por Lula pretende proteger a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes. O ministro da Educação, Camilo Santana, destacou estudos que associam o uso excessivo de celulares a problemas como ansiedade e depressão, além de reforçar que a proibição foi uma demanda dos professores.
A nova legislação permite exceções para alunos que necessitam dos dispositivos por questões de acessibilidade ou saúde e autoriza o uso pedagógico dos aparelhos sob orientação dos professores. Também exige que as redes de ensino abordem o impacto do uso excessivo de telas e acolham estudantes que sofrem com a nomofobia, o medo de ficar sem o celular.
Desafios e oportunidades

Para Garofalo, a proibição por si só não resolverá o problema da distração em sala de aula. “O professor precisa tornar as aulas mais atrativas e dialogar com como os estudantes aprendem hoje”, afirma. Ela também aponta que, em muitas escolas públicas, o celular é o único meio de acesso à internet para muitos alunos, sendo essencial para atividades educacionais.
A educadora destaca que a falta de infraestrutura nas escolas é um grande obstáculo para a inclusão digital. “Não podemos aumentar o abismo digital entre os estudantes ao proibir uma tecnologia sem oferecer alternativas viáveis”, ressalta.
Caminhos para o futuro
Uma solução apontada por Garofalo é a implementação de políticas que promovam a educação midiática e a cultura digital nas escolas. “Os alunos precisam aprender a usar a tecnologia de forma crítica e produtiva”, defende.
Ela também enfatiza a necessidade de formação dos professores para lidar com o uso pedagógico das tecnologias. “O professor tem um papel insubstituível no processo de aprendizagem, e a inteligência artificial ou qualquer outra tecnologia nunca substituirá a interação humana na educação”, conclui.
A discussão sobre o papel dos celulares na educação está longe de terminar. Enquanto as escolas buscam formas de equilibrar disciplina e inovação, o desafio continua sendo preparar os alunos para um mundo cada vez mais digital, sem perder de vista a importância da educação presencial e da interação social.