A disparada nos preços de alimentos básicos, como laranja, café e carne, marcou o cenário econômico de 2024 e gerou alerta no governo. A alta da inflação fez com que o Executivo intensificasse reuniões para buscar medidas que possam conter o aumento dos preços. Além desses produtos, açúcar e óleo de soja também entraram na lista de monitoramento. Especialistas apontam que o câmbio desfavorável foi um dos principais fatores para esse cenário.
Impacto do dólar na inflação
A valorização do dólar teve um papel determinante no encarecimento dos alimentos. De acordo com André Braz, coordenador dos índices de preço do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), o real foi uma das moedas mais desvalorizadas de 2024, e o câmbio influenciou diretamente o custo dos produtos. Segundo ele, “o aumento de quase 28% no valor da moeda americana no último ano impactou insumos como trigo e farinha de trigo, pressionando itens essenciais como pão francês e macarrão“. A projeção para 2025 indica que essa alta pode continuar, elevando ainda mais os preços no mercado interno.
Além disso, a desvalorização do real incentiva as exportações, já que os produtos brasileiros se tornam mais competitivos no exterior. Isso pode reduzir a oferta no mercado nacional, encarecendo ainda mais alimentos como a carne vermelha, cuja demanda internacional segue elevada.
Setor de alimentos lidera inflação
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2024 com alta de 4,83%, superando o teto da meta estipulada pelo Banco Central, que era de 4,5%. O setor de Alimentação e Bebidas foi o principal responsável pelo avanço inflacionário, acumulando alta de 7,69% no ano e contribuindo com um terço do índice total. Os alimentos que estão no foco do governo registraram aumentos expressivos, variando de 5,59% a 91,03%.
Fatores específicos para cada alimento

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a forte demanda internacional por carne brasileira é um dos motivos que mantêm os preços elevados. Além disso, os custos de produção e logística aumentaram, o que pode levar a novos reajustes ao longo do ano.
No caso da laranja, um dos problemas foi a disseminação do greening, doença bacteriana que afeta plantações cítricas e compromete a produtividade. Cruz explica que, apesar da previsão de uma safra maior em 2025, a redução das chuvas levou a uma revisão das projeções, o que pode impedir uma queda significativa nos preços.
Já a produção de café deve ser menor no próximo ano, mas como o Brasil não domina esse mercado de forma isolada, há possibilidade de equilíbrio nos preços caso outros países apresentem boas colheitas.
Perspectivas para 2025
Apesar das incertezas, economistas projetam um desempenho melhor para o agronegócio em 2025, o que pode contribuir para amenizar a inflação dos alimentos. A expectativa é de uma safra 10% superior à de 2024, impulsionada pela ausência de fenômenos climáticos extremos, como El Niño e La Niña. Para Braz, “a maior oferta de alimentos pode reduzir o impacto inflacionário, garantindo maior estabilidade nos preços“.