Nos últimos seis dias, as armas de gel, popularmente conhecidas como gel blasters, geraram grande preocupação em Recife. A Fundação Altino Ventura (FAV) registrou 33 casos de lesão ocular, consequência direta de batalhas com esses dispositivos. Desde o último sábado (30), um crescente número de pessoas, incluindo crianças, tem procurado atendimento médico relatando dores nos olhos e visão turva.
Entre os casos mais graves está o de um menino de nove anos, que precisou passar por uma cirurgia ocular para evitar danos permanentes. A fundação reforça a recomendação do uso de óculos de proteção e alerta para os riscos da brincadeira, que pode ter consequências sérias para a saúde visual.
Proibição em Paulista
A cidade de Paulista, na Região Metropolitana do Recife, deu o primeiro passo para coibir a prática. Na última quarta-feira (4), a Câmara de Vereadores aprovou, por unanimidade, um projeto de lei que proíbe a fabricação, venda e uso das armas de gel no município. Agora, o texto aguarda a sanção do prefeito Yves Ribeiro (PT).
O Projeto de Lei 145/2024, proposto pelo vereador Eudes Farias (MDB), busca restringir não apenas as armas de gel, mas também outros dispositivos semelhantes, como réplicas de armas de fogo e lasers, que têm causado preocupação pela semelhança com armas reais e o potencial para gerar pânico.
Riscos e debates no estado
A popularização das gel blasters em Pernambuco gerou debates no cenário estadual. O deputado Joel da Harpa defendeu medidas mais rigorosas, alertando que, embora o uso dessas armas não seja considerado crime, situações de confronto em vias públicas podem ser enquadradas como contravenção penal.
Joel destacou os perigos associados à prática: “Mexe com a ordem pública e pode resultar em lesões corporais, acidentes de trânsito e até mal-entendidos, como pessoas pensando que se trata de arrastões”.
O parlamentar propôs à Assembleia Legislativa de Pernambuco uma campanha educativa e maior envolvimento da Polícia Militar para coibir o uso inadequado das armas de gel. Ele também alertou que, mesmo sem regulamentação específica, os usuários podem enfrentar punições previstas na legislação atual.
Posicionamento do Inmetro
O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) reforçou que as armas de gel não são classificadas como brinquedos. Em nota, o órgão explicou que esses dispositivos são comparáveis a equipamentos como airsoft e paintball, regulamentados por decreto federal, e não podem ostentar o Selo de Conformidade do Inmetro.
João Nery, diretor de Avaliação da Conformidade do instituto, destacou que o uso inadequado das réplicas pode trazer sérios riscos. “Esses produtos não atendem aos requisitos de segurança previstos para brinquedos”, afirmou.
Além disso, o presidente do Inmetro, Márcio André Brito, pediu que a população denuncie irregularidades na comercialização das armas, especialmente aquelas que ostentam indevidamente o selo do instituto.
O que esperar?
Enquanto o número de vítimas aumenta, a discussão sobre a regulamentação e os limites do uso de armas de gel ganha força. O fenômeno, que começou como uma brincadeira entre jovens, agora coloca em evidência a necessidade de políticas públicas para equilibrar diversão e segurança.
Com ações locais já em andamento e o envolvimento de autoridades estaduais e federais, a expectativa é de que novas medidas sejam adotadas para conter os riscos associados a essa prática crescente. A conscientização, aliada à fiscalização, será essencial para evitar mais tragédias.