No ano de 2024, o Brasil teve 472 mil afastamentos do trabalho causados por transtornos mentais, revelou o G1 por meio de dados do Ministério da Previdência Social. Esse número simboliza um aumento de 68% em relação ao ano anterior (2023).
Para calcular esse total, o Ministério considerou a quantidade de pessoas que receberam auxílio por incapacidade temporária por meio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Esse benefício é concedido a trabalhadores que precisam se afastar por mais de 15 dias e exige a passagem em uma perícia médica para justificar a licença.
Causa dos afastamentos
Segundo dados do Ministério da Previdência Social, a maior causa dos afastamentos é por ansiedade. Cerca de 30% dos auxílios concedidos (141,414) têm como justificativa essa doença, na sequência estão depressão e transtorno bipolar.
Dentre os estados brasileiros, os mais populosos apresentaram o maior número de licenças – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – porém, no índice proporcional, número de afastamentos em relação à população, uma das maiores taxas está no Rio Grande do Sul, estado que sofreu uma tragédia no ano de 2024, resultando em centenas de mortos, milhares de desabrigados e, por consequência, afetando a vida dos trabalhadores.
Recorte de gênero
Ao analisar o perfil das pessoas que se afastaram por saúde mental, observa-se que mais de 60% são mulheres na faixa dos 40 anos com quadros de ansiedade e depressão. Dois dos fatores que explicam a maioria são a sobrecarga de trabalho e a menor remuneração.

Em 2022, uma pesquisa publicada na revista científica The Lancet mostrou que as mulheres foram as mais afetadas pela crise sanitária decorrente da pandemia, com maior índice de desemprego, trabalho não remunerado e violência. A pesquisa foi liderada pela brasileira Luísa Flor, pós-doutoranda na Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e analisou 193 países entre março de 2020 e setembro de 2021.
Impactos no mercado
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos por conta de depressão e ansiedade, resultando em um custo de aproximadamente 1 trilhão de dólares para a economia global. O Relatório de Saúde Mental da OMS, publicado em 2022, já mostrava que um bilhão de pessoas sofria com transtornos mentais e que 15% dos adultos em idade laboral, idade para trabalhar, possuía algum transtorno mental.
A OMS analisa que cargas pesadas de trabalho e comportamentos negativos são fatores que causam sofrimento no trabalho e podem gerar riscos à saúde mental. De olho na situação global, em 2022, a OMS e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) fizeram um chamado para novas medidas que atendam às preocupações sobre a saúde mental da população trabalhadora.
Para lidar com essa problemática no Brasil, o governo atualizou a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que apresenta as diretrizes de saúde no ambiente do trabalho. Com a atualização, o Ministério do Trabalho irá fiscalizar os riscos psicossociais no ambiente de trabalho e poderá multar empresas em que coloquem metas excessivas aos seus trabalhadores, jornadas extensas, ausência de suporte, condições precárias de trabalho, entre outras questões.
Por: Camila Terra