Nesta quinta-feira (19), Ed Sheeran, munido apenas de seu violão, subiu ao palco do Rock in Rio como a principal atração da noite, encantando o público sem recorrer a grandes inovações ou efeitos cenográficos. A apresentação, com duração de uma hora e vinte e cinco minutos, consistiu em 17 canções executadas de forma ligeira, onde se percebeu uma leve pressa. Efeitos visuais um tanto simplórios e discursos tímidos complementaram um desempenho que, há mais de 15 anos, segue um formato minimalista e eficaz.
O festival, que será transmitido diariamente a partir das 15h15 no Globoplay e no canal Multishow, oferece ao público uma visão abrangente deste e de outros espetáculos memoráveis.
Arte sem truques: talento puro e dedicação
Logo após a execução de “Castle on the Hill“, Sheeran fez uma pausa para explicar sua metodologia de apresentação: “Tudo o que vós ouvem é tocado ao vivo. Não há nada pré-gravado”. Sua habilidade em criar sons complexos ao vivo é notável, utilizando apenas sua voz, violão e um dispositivo de looping que grava e reproduz as camadas musicais que ele cria em tempo real. Batidas, coros, refrões e dedilhados são sobrepostos em uma demonstração clara de seu talento e controle técnico. Sem banda, sem dançarinos, sem cenários extravagantes, o cantor de 33 anos mostra-se capaz de sustentar o espetáculo com sua presença solitária, consolidando sua posição como o único artista a emplacar duas turnês entre as dez mais lucrativas da história.
Entre o romance e a dança: repertório diverso e multifacetado
Na quarta visita ao Brasil – após passagens em 2015, 2017 e 2019 – Sheeran apresentou ao público uma mescla de baladas românticas e músicas dançantes. Canções como ‘Thinking Out Loud“, “Photograph“, “Perfect” e “Love Yourself” (esta última um presente seu a Justin Bieber) foram entoadas com fervor pelos admiradores. Já sucessos mais enérgicos, como “Shiver“, “Shape of You” e “Don’t“, trouxeram um Ed Sheeran mais descontraído, com letras que abordam temas sensuais e terrenos além do amor.
O que une essas duas vertentes musicais é a versatilidade do artista em fundir diferentes estilos, transitando habilmente entre o pop dançante, o rock acústico, o rap e o R&B. Ao relembrar o início de sua carreira, quando se tornou o primeiro grande nome a despontar com a ajuda do Spotify, Sheeran falou de maneira rápida, quase impaciente, revelando sua clara predileção por tocar e cantar, embora se veja compelido a inserir algumas palavras entre as músicas, talvez por convenção.
Reflexões sobre o passado e o presente: de músico de pub a estrela global
Em um momento mais introspectivo, Sheeran recordou a época em que tocava nos pubs britânicos, um período representado pela canção “The A Team“, quando o sucesso ainda parecia uma realidade distante. Na música “Take It Back“, ele rememora sua partida de casa aos 16 anos, quando buscava a sorte como cantor, relatando os desafios e dificuldades enfrentados, como dormir no metrô. Hoje, no entanto, suas circunstâncias são radicalmente diferentes, e ele brinca dizendo que “dorme com estrelas de cinema”, embora, atualmente, o cantor viva uma fase mais familiar, desfrutando da paternidade.
Apesar de muitos presentes demonstrarem interesse nas histórias do artista, o ambiente acústico e a dispersão do público fizeram com que, em alguns momentos, a barulheira da plateia prejudicasse a experiência daqueles que desejavam absorver o espetáculo com mais atenção. Conversas paralelas sobre a derrota do Flamengo na Libertadores ou sobre as tatuagens de Sheeran se destacavam entre os comentários.
Interação com o público e uma promessa para o futuro
Ao executar “Don’t“, Sheeran tentou estimular o público a participar mais ativamente, pedindo que acompanhassem com palmas e cantos. Contudo, encontrou uma plateia visivelmente mais cansada em comparação com suas visitas anteriores. “Até agora, vocês têm sido barulhentos, mas já toquei no Brasil antes e sei que podem ser mais animados do que isso”, observou durante “Thinking Out Loud“, tentando animar o público.
Embora houvesse uma certa dose de verdade em sua observação, ele agradeceu com seu estilo caracteristicamente modesto: “Obrigado por ficarem até tão tarde em uma quinta-feira… Agradeço aos motoristas de trem e de ônibus, às babás… a todos que nos permitiram estar aqui”.
A apresentação foi finalizada com “Bad Habits“, mas não sem antes Sheeran deixar uma promessa que certamente alegrará seus admiradores brasileiros: ele retornará em 2025 com uma nova turnê solo.