A falta de mão de obra qualificada no Brasil tem gerado oportunidades de trabalho com aumentos salariais significativos, especialmente para profissionais com formação técnica. De acordo com um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor de serviços lidera essa tendência, com os salários de técnico em secretariado e professor de educação infantil registrando os maiores reajustes entre as 25 profissões mais demandadas.
O estudo aponta que, em 2024, os salários de técnico em secretariado subiram 17,3%, enquanto os de professores de educação infantil aumentaram 14,6%. Esses reajustes não só refletem a alta procura por trabalhadores qualificados, mas também indicam uma disputa crescente entre empresas para atrair os melhores candidatos.
Profissões mais valorizadas em um mercado aquecido
A pesquisa da CNC analisou 203 ocupações no mercado formal e destacou um fenômeno que vem ganhando força desde o fim da pandemia: o aumento da oferta de empregos qualificados e, consequentemente, o reajuste salarial inicial.
Entre as principais razões para esses aumentos, estão:
- Crescimento econômico: A taxa de crescimento do PIB brasileiro superou as expectativas na primeira metade do ano, impulsionando a geração de empregos.
- Redução da força de trabalho disponível: Com o envelhecimento populacional e a menor entrada de jovens no mercado de trabalho, a oferta de mão de obra encolheu.
- Maior exigência dos trabalhadores: Em um mercado aquecido, os profissionais se sentem mais confiantes para negociar salários melhores, jornadas mais flexíveis e benefícios atrativos.
“O aumento salarial inicial é consequência direta da disputa entre empresas por mão de obra qualificada”, afirma Fabio Bentes, economista da CNC responsável pelo estudo.
Impactos no mercado de trabalho
Os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) do IBGE mostram que o Brasil alcançou, no trimestre encerrado em outubro, o maior número de pessoas empregadas da série histórica: 103,6 milhões. Ao mesmo tempo, o desemprego recuou para 6,8 milhões de brasileiros, uma das menores taxas já registradas.
Esse cenário aquece ainda mais o mercado de trabalho, ampliando a dificuldade das empresas em encontrar profissionais qualificados. O problema é particularmente evidente no setor industrial, onde a falta de mão de obra qualificada já é a terceira maior preocupação dos empresários, atrás apenas de questões como carga tributária e custo de matéria-prima.
Caroline Nogueira, proprietária da rede de restaurantes Premium Essential Kitchen, relata ao G1, o desafio em preencher vagas, mesmo oferecendo incentivos como bônus financeiros e programas de capacitação:
“Já fiz de tudo: bônus de até R$ 2 mil, ‘RH na rua’ para anunciar vagas nas comunidades e até uma academia de formação gratuita, mas ainda assim temos dificuldades.”
Educação técnica como solução
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Para enfrentar a escassez de mão de obra, muitas empresas têm investido em capacitação interna. A Engelmig Energia, por exemplo, abre cerca de 250 vagas mensais e promove cursos gratuitos para formar candidatos com as habilidades necessárias, especialmente em áreas que exigem padrões rigorosos de segurança.
No setor de serviços, a situação é semelhante. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) revelou que, para 89% dos empresários do ramo, a maior dificuldade em preencher vagas está ligada à falta de qualificação dos candidatos.
Para especialistas, a valorização da formação técnica é essencial para atender à crescente demanda por profissionais capacitados. Lucas Assis, economista da Tendências Consultoria, explica que os trabalhadores qualificados estão cada vez mais seletivos:
“Os candidatos buscam melhores salários, jornadas flexíveis e condições que se alinhem às suas expectativas, o que aumenta a disputa no mercado.”
Oportunidades para o futuro
A tendência de reajustes salariais deve continuar enquanto o crescimento econômico e a disputa por talentos permanecerem em alta. José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, destaca a importância de investir em qualificação profissional para aproveitar as oportunidades do momento:
“A falta de profissionais qualificados é uma realidade em períodos de expansão econômica, mas também uma oportunidade para impulsionar a educação técnica e garantir melhores condições de trabalho para os brasileiros.”
A pesquisa da CNC é um reflexo claro de como a formação técnica pode ser uma vantagem estratégica no mercado de trabalho atual. Para quem está em busca de uma recolocação profissional, investir em qualificação pode ser o caminho para alcançar cargos valorizados e salários atrativos.
Com o mercado aquecido e as empresas buscando soluções criativas para preencher suas vagas, este é um dos melhores momentos para profissionais qualificados se destacarem e aproveitarem as oportunidades.