O laboratório PCS Saleme, responsável pelos exames em órgãos que resultaram na infecção por HIV de seis transplantados no estado do Rio de Janeiro, está sob investigação. A empresa prestava serviços a 10 unidades de saúde estaduais, realizando exames clínicos e patológicos de doenças como toxoplasmose, hepatite, sífilis e câncer. Entre 2022 e setembro de 2024, a Secretaria de Saúde investiu R$ 21,5 milhões em contratos com o laboratório, que analisava mensalmente mais de 69 mil exames, incluindo análises de sangue e biópsias.
O caso veio à tona quando, em 10 de setembro, um paciente transplantado apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Após uma investigação, as autoridades descobriram que os exames feitos pelo PCS Saleme em amostras de doadores falharam em identificar o vírus. No total, seis pacientes foram infectados após receberem órgãos de dois doadores diferentes, ambos com HIV. O Ministério da Saúde, o Ministério Público do RJ (MPRJ), a Polícia Civil, a Polícia Federal e o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) estão conduzindo investigações para apurar responsabilidades.
Em resposta ao incidente, a Secretaria Estadual de Saúde transferiu os exames de sorologia para o Hemorio. De acordo com a secretária Cláudia Mello, “a partir do dia 13 de setembro, toda a doação é passada direto das doações para o Hemorio”. A secretaria também está retestando amostras armazenadas de 286 doadores para garantir a segurança dos futuros transplantes. Além disso, uma sindicância foi instaurada e o contrato com o laboratório PCS Saleme suspenso.
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Repercussão e declarações dos envolvidos
A Secretaria de Estado de Saúde classificou o erro como inadmissível, destacando que uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e garantir a segurança dos processos de transplante. Em nota, a SES-RJ ressaltou que o serviço de transplantes sempre operou com altos padrões de qualidade, tendo salvado mais de 16 mil vidas desde 2006.
O PCS Saleme, por sua vez, afirmou que iniciou uma investigação interna e que está colaborando com as autoridades. O laboratório garantiu que usou kits de diagnóstico aprovados pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa e comprometeu-se a oferecer suporte médico e psicológico aos pacientes infectados.
Este caso expõe a importância da precisão em análises laboratoriais e acende um alerta sobre os riscos associados a falhas em diagnósticos, especialmente em procedimentos tão críticos como transplantes de órgãos.